segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Filosofia de Nith


Filosofia de Nietzche
Nietzsche fez a filosofia virar algo perigoso. Os pensamentos de Nietzsche nos aconselham a viver perigosamente, pois, como Hegel havia anunciado, e ele confirmou, Deus está definitivamente morto. Entre outras, Nietzsche nos recomenda a vitória como único remédio para nossas angústias.A obra de Friedrich Wilhelm Nietzsche mudou a visão da humanidade sobre a filosofia. A arte de pensar desenvolvida pelos gregos e revivida por Descartes e Kant pareceu com Nietzsche ter realmente adquirido importância, até por que os seus textos mostravam uma filosofia diferente, que tinha estilo, lucidez e era possível de ser lida e compreendida.Suas idéias que conceberam a doutrina da vontade da potência, o super-homem e o eterno retorno iluminaram a imaginação dos homens. Nietzsche terminou louco, mas seus pensamentos que influenciam gerações não são frutos de sua insanidade mental nem se relacionam com os ideais dos aproveitadores que tentaram usá-los para justificarem suas insanidades.
Uma filosofia construída a partir de aforismos e frases lapidares e que podia ser compreendida por todos. Esse foi o feito de Nietzsche que transformou a filosofia em algo tão perigoso a partir dele. Com um pensamento desenvolvido em diferentes direções, mas em geral coerente, ele não constrói sua filosofia de forma metódica.A principal contribuição filosófica de Nietzsche é o conceito da “vontade de potência”. Baseado nas idéias de Schopenhaeur e dos gregos antigos, ele concluiu que a humanidade é impelida por um desejo de potência que se modifica ao longo dos séculos. Nietzsche diz que o que a humanidade fazia antes por amor a Deus ela o faz agora por amor ao dinheiro. Para ele, o cristianismo foi uma perversão dessa vontade, já que suas idéias de humildade, amor fraterno e compaixão significam o oposto desse desejo. Ao aplicar a vontade de potência na análise da motivação humana, Nietzsche mostra que atos que parecem nobres ou louváveis não passam de atitudes decadentes ou doentias.Outro importante e famoso conceito desenvolvido por Nietzsche é o do super-homem. Representado pela figura de Zaratustra, ele prega a destruição dos valores cristãos. Num mundo sem Deus, cada indivíduo deve forjar seus próprios valores com total liberdade, já que seus atos não estarão sujeitos a qualquer sanção divina ou de outra natureza. Segundo Nietzsche, “o objetivo da humanidade não pode residir em seu fim, mas em seus espécimes mais elevados”.Um pensamento desenvolvido por Nietzsche foi o do eterno retorno, que segundo ele seria a fórmula para a grandeza de um ser humano. Para isso, deveríamos agir como se a vida que vivemos continuasse a se repetir para sempre. Assim, cada momento terá de ser revivido repetidas vezes eternamente. Trata-se, na verdade, de uma exortação para que vivamos nossas vidas ao máximo. Mas, do ponto de vista filosófico ou moral, o eterno retorno torna-se sem sentido, uma vez que se tivermos lembranças dessas vidas recorrentes certamente faríamos mudanças, e se não tivermos, elas são irrelevantes. A grande força do conceito de eterno retorno é mais poética do que filosófica.Entre a sua “morte” espiritual em 1889, quando ficou clinicamente louco, e a física em 1900, a obra de Nietzsche ganhou projeção e reconhecimento mundial. Grande parte do universo intelectual e artístico do século 20 foi profundamente influenciada por seus pensamentos.
Aos desprezadores do corpo desejo falar. Eles não devem aprender e ensinar diferentemente, mas apenas dizer adeus a seu próprio corpo — e, assim, emudecer.
Corpo sou eu e alma” — assim fala a criança. E por que não se deveria falar como as crianças?
Mas o desperto, o sabedor, diz: corpo sou eu inteiramente, e nada mais; e alma é apenas uma palavra para um algo no corpo.
O corpo é uma grande razão, uma multiplicidade com um só sentido, uma guerra e uma paz, um rebanho e um pastor.
Instrumento de teu corpo é também tua pequena razão que chamas de “espírito”, meu irmão, um pequeno instrumento e brinquedo de tua grande razão.
Eu”, dizes tu, e tens orgulho dessa palavra. A coisa maior, porém, em que não queres crer — é teu corpo e sua grande razão: essa não diz Eu, mas faz Eu.
O que o sentido sente, o que o espírito conhece, jamais tem fim em si mesmo. Mas sentido e espírito querem te convencer de que são o fim de todas as coisas: tão vaidosos são eles.
Instrumentos e brinquedos são sentidos e espírito: por trás deles está o Si-mesmo.
O Si-mesmo também procura com os olhos do sentido, também escuta com os ouvidos do espírito.
O Si-mesmo sempre escuta e procura: compara, submete, conquista, destrói. Domina e é também o dominador do Eu.
Por trás dos teus pensamentos e sentimentos, irmão, há um poderososoberano, um sábio desconhecido — ele se chama Si-mesmo. Em teu corpo habita ele, teu corpo é ele.
Há mais razão em teu corpo do que em tua melhor sabedoria. E quem sabe por que teu corpo necessita justamente de tua melhor sabedoria?
Teu Si-mesmo ri de teu Eu e de seus saltos orgulhosos. “Que são para mim esses saltos e voos do pensamento?”, diz para si. “Um rodeio até minha meta.
Eu sou a andadeira do Eu e o soprador dos seus conceitos.”
O Si-mesmo diz para o Eu: “Sente dor aqui!”. E esse sofre e reflete em como não mais sofrer — e justamente para isso deve pensar.
O Si-mesmo diz para o Eu: “Sente prazer aqui!”. E esse se alegra e reflete em como se alegrar mais — e justamente para isso deve pensar.
Aos desprezadores do corpo tenho algo a dizer. O fato de desprezarem constitui o seu prezar. O que foi que criou o prezar e o desprezar, o valor e a vontade?
O Si-mesmo criador criou para si o prezar e o desprezar, criou para si o prazer e a dor. O corpo criador criou para si o espírito, como uma mão de sua vontade.
Ainda em vossa tolice e desprezo, vós, desprezadores do corpo, atendeis ao vosso Si-mesmo. Eu vos digo: vosso próprio Si-mesmo quer morrer e se afasta da vida.
Já não é capaz de fazer o que mais deseja: — criar para além de si. Isso é o que mais deseja, isso é todo o seu fervor.
Mas ficou tarde demais para isso: — então vosso Si-mesmo quer perecer, desprezadores do corpo!
Vosso Si-mesmo quer perecer, e por isso vos tornastes desprezadores do corpo! Pois não mais sois capazes de criar para além de vós.
E por isso vos irritais agora com a vida e a terra. Há uma inconsciente inveja no oblíquo olhar do vosso desprezo.
Não seguirei vosso caminho, desprezadores do corpo! Não sois, para mim, pontes para o super-homem! —
Assim falou Zaratustra.


(Friedrich Nietzsche "assim falou Zaratustra")
Friedrich Nietzsche: uma introdução*
Friedrich Nietzsche nasceu em Rocken, uma pequena vila da Alemanha, em 1844. Estudou na famosa escola preparatória
de Schulpforta, que já havia tido nomes como o filósofo Fichte, e entrou para a Universidade de Bonn, tendo mais tarde se transferido para a Universidade de Leipizig, para concentrar seus estudos em filologia.
Sua maior descoberta em Leipizig talvez tenha sido um livro acanhado nas prateleiras da biblioteca universitária chamado “O Mundo como Vontade e Representação”, de Arthur Schopenhauer. Nietzsche adorou a crítica voraz com que o filósofo destroçava a sociedade de sua época e se interessou pelo estilo ateu de escrita.
Este estilo ateu de Schopenhauer injetou em Nietzsche a força para se desprender de toda a metafísica até então dominante. Era necessário bolar uma nova ideia sobre o homem, concebê-lo de um novo jeito: não havia mais como entendê-lo como objeto ou como essência fixa. O homem é pura mutação.
O homem e a moral
A característica do homem é sua mutabilidade eterna. Essa mutabilidade precisa ser controlada pelo rebanho, para que a imprevisibilidade que carrega se docilize (e se transforme em previsibilidade adequada às normas sociais). Segundo Nietzsche, o homem, que é pura criação, não pode se rebaixar à previsão científica: ele cria, se expande, quer sempre mais, não é um objeto sensível ou uma engrenagem mecânica.
É por isso que o autor rejeita a moral que ele chama de contranatural.
É necessário separar dois tipos de moral: 1) a natural, que está de acordo com os instintos do homem, com sua sede de dominação, com o livre fluxo da vontade de potência; e 2) a moral contranatural, aquela que está de acordo com a castração, com o viver da vida não digno, com o ódio à vida, que é
característica do rebanho.
O fundamental da filosofia de Nietzsche está na concepção do homem enquanto vida que quer mais vida, enquanto potência que quer mais potência – indivíduo de moral natural. Mas porque este tipo de homem não é visto por aí? Afinal, Nietzsche critica toda a sociedade europeia, retira de sua época qualquer possibilidade de alcançar uma vida de fato plena – onde está, então, o tipo de homem livre, potente?
O super-homem
Este seria o super-homem, conceito tão mal interpretado de sua filosofia. O super-homem, ao contrário do senso comum, não é uma tentativa de Nietzsche se aproximar de políticas que viriam a ser o nazismo, essa é uma má apropriação nazista do conceito. O super-homem é o homem que vive como artista, é pura criação. Ele ama a vida, amor-fati!
E o que isso tem a ver com as ciências humanas contemporâneas? Primeiramente é necessário observar que Freud bebeu muito de Nietzsche. O conceito de pulsão é diretamente influenciado pelo conceito de vontade de potência.
Partindo disso, como não perceber a influência de Freud em Deleuze, Foucault, Bourdieu entre outros, além da criação de procedimentos e ferramentas de análise baseadas na multiplicidade exposta por Nietzsche em sua filosofia, como a genealogia foucaultiana?
Nietzsche como caixa de ferramentas
A genealogia foucaultiana é a extrapolação para as ciências humanas da genealogia da moral. Um jeito não histórico de fazer história, ou seja, um jeito de se fazer história sem sujeição aos marcos do pensamento marxista ou positivista. Não se trata de observar uma linha do tempo de fatos que precisam ser observados, mas sim de observar forças que se concatenam em uma luta constante por sobrevivência.
Esse é o grande trunfo de Nietzsche, sua filosofia é uma caixa de ferramentas perfeita, conforme Deleuze descreveu a própria função da filosofia. É uma caixa de ferramentas pronta para ser utilizada por qualquer um que queira adentrar em seu mundo.
O mundo da filosofia nietzscheana, portanto, não é um lugar inóspito e aristocrata: mas é um campo de criação e sublimação.



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