segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Conteúdo para estudo - os Filósofos Pré Socráticos


FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA – Resumo Geral
A filosofia grega, é sistemática e elegante: ela divide o período antes de Sócrates em três fases, com Parmênides no centro, e caracteriza cada fase por uma abordagem específica a um problema comum. Os filósofos não seguiram um emaranhado de projetos diferentes, mas se ocuparam de uma única busca por uma resposta em questão.
Essa narrativa fala de progresso. Como historiadores de filosofia, gostamos de explicar por que alguma coisa aconteceu depois da outra e precisamos atribuir a certos acontecimentos a função de causadores de uma mudança.
Vemos que os pensadores que sucederam Parmênides tomaram um rumo diferente dos que o antecederam e sugere que, ao aprender a lidar com as dificuldades levantadas por Parmênides, haviam descoberto algumas verdades importantes e aprimorado seus métodos de investigação.
Duas características que pensamos ser particularmente essenciais à filosofia são: primeiro, a disposição de debater abertamente com aqueles que discordam, reconhecendo que há outros pontos de vista com os quais é preciso lidar; e segundo, a necessidade de argumentar em termos que o adversário possa compreender e de respeitar os bons argumentos do outro lado. Podemos nos convencer de que ambas as coisas estavam acontecendo.
Os pensadores podem ser primitivos, e suas questões podem parecer muito estranhas, mas eles estavam, aparentemente, discordando uns dos outros – desafiando e respondendo, um de cada vez, num debate em câmera lenta.
Logo que Tales ( Séc. VII e VI a.C. ), em Mileto, propôs a ideia de que a água é a origem de tudo, os outros sentiram a necessidade de questionar isso: ‘Não da água’, disse um, ‘e sim do ar’; ‘Não do ar’, afirmou outro, ‘e sim, da terra’; ‘De nenhum desses’, disse um terceiro, ‘mas de alguma outra coisa que na verdade não é nada em particular’. Todos queriam explicar, da melhor forma, como o mundo que hoje conhecemos pôde ter se originado de um único tipo de matéria indiferenciada.
[Anaximandro ( Séc. VI a.C. ) acreditava que são coisas indefinidas; Anaxímenes ( Séc. VI a.C. ) acreditava que é o ár; Heráclito ( Séc. VI e V a.C. ) acreditava que é o fogo.]
Essa discussão continuou por algum tempo, com cada colaborador acrescentando uma teoria plausível para explicar como o mundo pode ter assumido a aparência que hoje tem, supondo que sua própria ideia sobre a origem fosse verdadeira.
Algum tempo depois, contudo, por volta da virada do século VI a.C. para o seguinte, sobreveio uma crise. ‘Esse tipo de teoria é uma impossibilidade lógica!’, disse um homem chamado Parmênides, que viveu na região grega do sul da Itália. ‘Uma coisa não pode se transformar em muitas coisas: o um é um e completamente solitário, e para sempre será assim, ou melhor, não será, já que não pode haver tempo futuro, e tampouco passado!’ Bom, todos ficaram perplexos com o arrojado argumento de Parmênides, que ele corroborava com uma impressionante série de provas meticulosas e detalhadas. Se nada pode mudar, e se o que havia antes não pode transformar-se em algo novo, como explicar as estruturas complexas e as diferentes coisas que encontramos à nossa volta? Então, todos resolveram tentar solucionar esse problema. Todos, com exceção de alguns fiéis pupilos de Parmênides.
Então, uma nova torrente de teorias fluiu, advinda dos pensadores do início do século V a.C., a maioria delas contestando Parmênides. ‘Talvez’, eles arriscaram dizer, ‘Parmênides esteja correto ao afirmar que nada se transforma de fato; mas não seria possível que o mundo fosse complexo desde o início? Suponhamos que tudo o que existe hoje já existisse desde o princípio: muitas coisas naquele tempo, muitas coisas agora. Assim, Parmênides pode estar errado ao dizer que sempre houve apenas uma única coisa.’
E então, eles começaram a formular explicações de como o mundo pode ter se originado na forma de muitos tipos de matéria: um disse que havia quatro elementos, outro afirmou que os elementos eram de número infinito, e outro ainda que havia partículas atômicas (indivisíveis) de matéria, pequenas demais para que pudéssemos enxergar a olho nú; mas o que todos sugeriram em uníssono foi que, mesmo que as partículas microscópicas continuassem sempre as mesmas, ainda assim, modificando sua disposição, se poderia chegar a combinações e estruturas que assumiriam muitas formas diferentes. Desse modo, podemos explicar como as estruturas observáveis do mundo estão sempre mudando de maneiras que parecem plausíveis, mesmo que se acredite em Parmênides.
[Parmênides ( Séc. VI e V a.C. ) , Zenão ( Séc. V e IV a.C. ) e Melisso ( Séc. V a.C. ) acreditavam no Um; Empédocles ( Séc. V a.C. ) acreditava na terra, ar, fogo e água e também unia o conceito de monismo com o de pluralismo considerando-os fases de um ciclo infinito, em que as coisas passam de uma só para muitas, e depois voltam a ser uma, consecutivamente; Anaxágoras ( Séc. V a.C ) acreditava em numerosos componentes infinitamente divisíveis; Léucipo e Demócrito ( Séc. V e IV a.C. ) acreditavam em numerosos componentes indivisíveis e o vazio.]
Então, depois de dois séculos de discussões sobre a natureza do mundo, eles deixaram suas dificuldades de lado e o período da primeira cosmologia grega chegou ao fim. Chegara o momento propício para um novo tipo de questão, desta vez sobre a vida humana e os valores morais. Entram em cena Sócrates e os sofistas.

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