FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA – Resumo Geral
A filosofia grega, é sistemática e elegante: ela divide o período
antes de Sócrates em três fases, com Parmênides no centro, e
caracteriza cada fase por uma abordagem específica a um problema
comum. Os filósofos não seguiram um emaranhado de projetos
diferentes, mas se ocuparam de uma única busca por uma resposta em
questão.
Essa narrativa fala de progresso. Como historiadores de filosofia,
gostamos de explicar por que alguma coisa aconteceu depois da outra e
precisamos atribuir a certos acontecimentos a função de causadores
de uma mudança.
Vemos que os pensadores que sucederam Parmênides tomaram um rumo
diferente dos que o antecederam e sugere que, ao aprender a lidar com
as dificuldades levantadas por Parmênides, haviam descoberto algumas
verdades importantes e aprimorado seus métodos de investigação.
Duas características que pensamos ser particularmente essenciais à
filosofia são: primeiro, a disposição de debater abertamente com
aqueles que discordam, reconhecendo que há outros pontos de vista
com os quais é preciso lidar; e segundo, a necessidade de argumentar
em termos que o adversário possa compreender e de respeitar os bons
argumentos do outro lado. Podemos nos convencer de que ambas as
coisas estavam acontecendo.
Os pensadores podem ser primitivos, e suas questões podem parecer
muito estranhas, mas eles estavam, aparentemente, discordando uns dos
outros – desafiando e respondendo, um de cada vez, num debate em
câmera lenta.
Logo que Tales ( Séc. VII e VI a.C. ), em Mileto, propôs a ideia de
que a água é a origem de tudo, os outros sentiram a necessidade de
questionar isso: ‘Não da água’, disse um, ‘e sim do ar’;
‘Não do ar’, afirmou outro, ‘e sim, da terra’; ‘De nenhum
desses’, disse um terceiro, ‘mas de alguma outra coisa que na
verdade não é nada em particular’. Todos queriam explicar, da
melhor forma, como o mundo que hoje conhecemos pôde ter se originado
de um único tipo de matéria indiferenciada.
[Anaximandro ( Séc. VI a.C. ) acreditava que são coisas
indefinidas; Anaxímenes ( Séc. VI a.C. ) acreditava que é o ár;
Heráclito ( Séc. VI e V a.C. ) acreditava que é o fogo.]
Essa discussão continuou por algum tempo, com cada colaborador
acrescentando uma teoria plausível para explicar como o mundo pode
ter assumido a aparência que hoje tem, supondo que sua própria
ideia sobre a origem fosse verdadeira.
Algum tempo depois, contudo, por volta da virada do século VI a.C.
para o seguinte, sobreveio uma crise. ‘Esse tipo de teoria é uma
impossibilidade lógica!’, disse um homem chamado Parmênides, que
viveu na região grega do sul da Itália. ‘Uma coisa não pode se
transformar em muitas coisas: o um é um e completamente solitário,
e para sempre será assim, ou melhor, não será, já que não pode
haver tempo futuro, e tampouco passado!’ Bom, todos ficaram
perplexos com o arrojado argumento de Parmênides, que ele
corroborava com uma impressionante série de provas meticulosas e
detalhadas. Se nada pode mudar, e se o que havia antes não pode
transformar-se em algo novo, como explicar as estruturas complexas e
as diferentes coisas que encontramos à nossa volta? Então, todos
resolveram tentar solucionar esse problema. Todos, com exceção de
alguns fiéis pupilos de Parmênides.
Então, uma nova torrente de teorias fluiu, advinda dos pensadores do
início do século V a.C., a maioria delas contestando Parmênides.
‘Talvez’, eles arriscaram dizer, ‘Parmênides esteja correto ao
afirmar que nada se transforma de fato; mas não seria possível que
o mundo fosse complexo desde o início? Suponhamos que tudo o que
existe hoje já existisse desde o princípio: muitas coisas naquele
tempo, muitas coisas agora. Assim, Parmênides pode estar errado ao
dizer que sempre houve apenas uma única coisa.’
E então, eles começaram a formular explicações de como o mundo
pode ter se originado na forma de muitos tipos de matéria: um disse
que havia quatro elementos, outro afirmou que os elementos eram de
número infinito, e outro ainda que havia partículas atômicas
(indivisíveis) de matéria, pequenas demais para que pudéssemos
enxergar a olho nú; mas o que todos sugeriram em uníssono foi que,
mesmo que as partículas microscópicas continuassem sempre as
mesmas, ainda assim, modificando sua disposição, se poderia chegar
a combinações e estruturas que assumiriam muitas formas diferentes.
Desse modo, podemos explicar como as estruturas observáveis do mundo
estão sempre mudando de maneiras que parecem plausíveis, mesmo que
se acredite em Parmênides.
[Parmênides ( Séc. VI e V a.C. ) , Zenão ( Séc. V e IV a.C. ) e
Melisso ( Séc. V a.C. ) acreditavam no Um; Empédocles ( Séc. V
a.C. ) acreditava na terra, ar, fogo e água e também unia o
conceito de monismo com o de pluralismo considerando-os fases de um
ciclo infinito, em que as coisas passam de uma só para muitas, e
depois voltam a ser uma, consecutivamente; Anaxágoras ( Séc. V a.C
) acreditava em numerosos componentes infinitamente divisíveis;
Léucipo e Demócrito ( Séc. V e IV a.C. ) acreditavam em numerosos
componentes indivisíveis e o vazio.]
Então, depois de dois séculos de discussões sobre a natureza do
mundo, eles deixaram suas dificuldades de lado e o período da
primeira cosmologia grega chegou ao fim. Chegara o momento propício
para um novo tipo de questão, desta vez sobre a vida humana e os
valores morais. Entram em cena Sócrates e os sofistas.
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